ASSOCIAÇÃO PAIS COMO NÓS
Em Construção
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Resumo
Enquadramento: Os problemas de comportamento, entre eles a hiperatividade, podem estar presentes tão cedo como em idade pré-escolar e são cada vez mais identificados nesta faixa etária. A investigação nesta área tem demonstrado que a intervenção precoce, antes de estarem presentes efeitos secundários negativos, é eficaz, podendo contribuir para prevenir ou atenuar as trajetórias desenvolvimentais desviantes da PH/DA. As intervenções psicossociais, que incluem programas para pais, são recomendadas como intervenções de “primeira linha”. Este estudo tem como principal objetivo avaliar a eficácia de um programa de intervenção parental, o Programa Anos Incríveis Básico, numa amostra de mães e de crianças portuguesas em idade pré-escolar, em risco de vir a desenvolver hiperatividade. Procura-se, também, avaliar a manutenção dos efeitos a médio prazo e analisar as diferenças na mudança, de acordo com o nível inicial de comportamentos de hiperatividade. Partindo de uma perspetiva desenvolvimental, o programa selecionado (baseado em evidência) atua simultaneamente nos fatores protetores e de risco, através do foco no sistema parental (em práticas parentais eficazes e na interação mãe-criança).
Metodologia: Participaram neste estudo 100 crianças, entre os 3 e os 6 anos de idade, de contextos clínicos ou da comunidade. Estas crianças faziam parte da amostra mais alargada de um estudo experimental. Na subamostra usada para a presente investigação, 52 crianças pertenciam ao grupo experimental e 48 ao grupo de controlo/lista de espera. Este estudo longitudinal contemplou três momentos de avaliação. Assim, todas as crianças e mães (N = 100) foram avaliadas em dois momentos, antes e 6 meses após a linha de base. Apenas as famílias do grupo experimental (n = 52) foram avaliadas no terceiro momento de avaliação, aos 12 meses após a linha de base, uma vez que ao grupo de controlo foi oferecida intervenção depois da segunda avaliação, por questões éticas. Para além dos dados sociodemográficos e clínicos iniciais, a avaliação realizada incluiu multi-informadores (pais, educadores de infância, avaliador independente), multimétodos (medidas de autorrelato e heterorrelato, entrevista, observação direta) e diferentes dimensões: comportamentos de hiperatividade da criança (resultados primários); sentido de competência parental, práticas parentais, interação pais-filhos (resultados secundários); assim como medidas de satisfação dos participantes. O programa foi implementado ao longo de 14 sessões com uma duração aproximada de 2 horas cada, em grupos de 9 a 12 pais, dinamizadas por dois facilitadores com formação específica no programa e experiência prévia na sua aplicação.
Resultados: Em relação aos nossos objetivos, salientamos como principais resultados: i. Aos 6 meses de follow-up, de acordo com a perceção das mães e educadoras de infância, verificou-se uma diminuição significativa dos comportamentos de PH/DA nas crianças cujos pais receberam intervenção, em comparação com as crianças da lista de espera. As mães dessas crianças percecionaram-se como mais competentes, reportaram menos práticas parentais disfuncionais e demostraram mais competências parentais positivas e de coaching, numa tarefa de observação da interação mãe-criança; ii. Aos 12 meses de follow-up, os efeitos de intervenção anteriormente detetados foram mantidos. No entanto, as competências de coaching das mães esbateram-se, enquanto os comportamentos de hiperatividade, avaliados através de uma entrevista, continuaram a diminuir; iii. Ambos os subgrupos de crianças com nível inicial de comportamentos de hiperatividade diferentes mudaram. Porém, no subgrupo com um nível mais elevado de comportamentos de hiperatividade na linha de base, verificou-se uma mudança mais acentuada (em sentido positivo) nos problemas relacionados com o excesso de atividade/desatenção, nas práticas parentais disfuncionais de sobrerreatividade e no humor das mães. Contudo, algumas destas crianças continuaram a ser percecionadas pelas mães com comportamentos caraterísticos de hiperatividade, no follow-up 12 meses; iv. Os efeitos de magnitude média a elevada detetados entre o pré e o pós-intervenção, e elevados entre o pré e o follow-up 12 meses, foram acompanhados de mudanças clínicas consideradas relevantes: 43% das crianças que receberam o programa manifestaram uma redução igual ou superior a 30% dos resultados iniciais de hiperatividade, comparativamente a 11% das crianças na lista de espera. Aos 12 meses de follow-up, a percentagem de crianças que apresentaram esta redução, considerada clinicamente relevante, aumentou ligeiramente (59% das crianças); iv. As mães revelaram elevada adesão, satisfação e aceitação, face ao programa AI-Básico.
Conclusões: Os resultados da nossa investigação são promissores e sugestivos de efeitos positivos do Programa Anos Incríveis a curto e a médio-prazo: na redução de comportamentos caraterísticos de PH/DA das crianças em contexto familiar e escolar; numa melhoria significativa das práticas parentais positivas e dos sentimentos de competência parental; e numa redução das práticas parentais disfuncionais. Por conseguinte, estes resultados sugerem, de forma preliminar, que o Programa, implementado ao longo de 14 semanas como modalidade única de uma intervenção preventiva, parece ser eficaz e fazer a diferença nos comportamentos das mães e das crianças. Uma “ferramenta” de intervenção precoce, validada internacionalmente e testada no nosso país, disponível para os profissionais portugueses, passa a constituir-se como uma opção de intervenção precoce a considerar na definição futura de políticas de intervenção preventiva nacionais. No final deste trabalho, apresentamos as principais limitações da investigação realizada e as implicações decorrentes da mesma para estudos futuros e para a prática clínica.